Febre amarela, prevenir é o melhor remédio

A febre amarela (FA) é uma doença infecciosa endêmica nas florestas tropicais das Américas e da África causando surtos esporádicos ou epidemias com impacto importante para a saúde pública. O vírus da FA pertence ao gênero Flavivírus da família Flaviviridae e a transmissão ocorre em dois ciclos distintos: urbano e silvestre. No ciclo urbano, a infecção ocorre diretamente, a partir da picada do Aedes aegypti, sendo o homem infectado propagador do vírus na população. No ciclo silvestre, os mosquitos são transmissores e reservatórios do vírus e os primatas não humanos (PNH), apenas hospedeiros e amplificadores do vírus. Nas Américas, os principais vetores transmissores do ciclo silvestre são o Haemagogus e o Sabethes.

A doença pode se manifestar desde a forma assintomática, oligossintomática, moderada até forma grave e maligna. Em um modelo matemático recente estimou-se que 55% das infecções são assintomáticas, 33% evoluem com uma forma leve e 12% progridem para doença grave. A letalidade das formas graves foi estimada em 47%. A utilização da vacina de febre amarela é a melhor forma de prevenção da doença.

No Brasil, nas últimas duas décadas, a febre amarela silvestre tem se apresentado com um padrão epizoótico-epidêmico, manifestando-se como uma doença reemergente em áreas do território brasileiro previamente consideradas fora da área endêmica. Neste período foi observada uma expansão importante da circulação viral no país em direção ao sudeste, culminando em 2017 e 2018 com uma epidemia de grande magnitude acometendo todos os estados da região Sudeste, predominantemente São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro (Figura 1).

Figura 1: Distribuição dos casos humanos e epizootias em PNH confirmados para febre amarela, por município do local provável de infecção, monitoramento 2017/2018 (jul/17 a jun/18), Brasil, até a semana epidemiológica 26.

No ano de 2018 a região do Vale do Ribeira durante todo o ano apresentou 23 casos confirmados em humanos distribuídos nos municípios de Itariri, Pedro de Toledo, Miracatu, Juquiá e Iguape onde o Hospital Regional Dr. Leopoldo Bevilacqua, administrado pelo CONSAÚDE, realizou importante papel na internação destes casos e encaminhamento dos mesmos para tratamento no Hospital das Clínicas e Hospital de Infectologia Emílio Ribas que são referências no cuidado aos pacientes com suspeita/confirmação de Febre Amarela. Em relação às epizootias confirmadas no ano de 2018 foram duas (uma em Juquiá e outra em Iguape). Intensas ações de vacinação para Febre Amarela foram realizadas neste ano de 2018 na região que até então não utilizava a vacinação de rotina. Abaixo cobertura vacinal da região:

Quadro 1 – Cobertura vacinal acumulada na série histórica de doses aplicadas segundo na região do Vale do Ribeira

No ano de 2019 observou-se um grande deslocamento do vírus sentido ao sul de nossa região, com o aparecimento de casos suspeitos em humanos no final de dezembro de 2018 para o início de janeiro de 2019, até o dia 17/01/2019 são 19 casos suspeitos: 10 confirmados (5 óbitos, 3 casos permanecem internados nos Hospital das Clínicas, 1 caso permanece internado no HRLB/CONSAÚDE e 1 paciente recebeu alta cura), em 6 casos os exames ainda estão sob análise laboratorial e 3 casos foram negativos. Abaixo, mapa com a distribuição de casos notificados, confirmados, óbitos e epizootias.

O Hospital Regional Dr. Leopoldo Bevilacqua é a referência para recebimento de casos com suspeita para Febre Amarela da região, atuando com extrema importância no tratamento e encaminhamento dos casos para as referências estaduais quando necessário.

 

Texto: Renan Augusto de Ramos, enfermeiro do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia do HRLB/CONSAÚDE

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